É muito comum o conceito de criatividade ser associado com áreas que requerem trabalhos artísticos. Mas você já parou para pensar em quais outras áreas a criatividade também é requisitada?
O dicionário online de português define criatividade com as seguintes características:
Mas como identificar essa capacidade dentro da gente? Será que todos podemos ser criativos? É possível praticar essa habilidade ou estimulá-la nas pessoas? Para isso, trazemos informações a partir de várias pesquisas para você entender como os processos criativos funcionam a nível neurológico e como eles podem ser desenvolvidos.
Criatividade é a capacidade de um indivíduo de ver o mundo de novas maneiras, para identificar padrões que estejam escondidos, estabelecer novas conexões entre fenômenos aparentemente isolados e gerar soluções originais. A habilidade envolve tanto pensamento quanto produção. Se não há uma ação para tornar a ideia realidade, o que acontece é apenas imaginação e não criação.
Vários pesquisadores da criatividade chegaram a um consenso de que para qualquer ideia (ou o que é executado a partir dela) ser considerada criativa, ela precisa exibir dois traços: originalidade e valor.
Originalidade: precisa ser diferente do que era antes. Não quer dizer que deva ser algo totalmente novo para a sociedade, mas sim para a pessoa, grupo ou situação envolvidos.
Valor: pode ser um valor em qualquer forma - um novo princípio científico, um valor monetário, uma reação emocional (para trabalhos artísticos) ou mesmo apenas o sentimento de alegria ou progresso (para uma situação pessoal).
O processo criativo não ocorre de forma singular, e depende do estímulo dado ao nosso cérebro. O pesquisador Arne Dietrich identificou quatro tipos de criatividade que podem ser exercidos pelas pessoas:
Ao usar este tipo de criatividade, você está reunindo informações existentes de maneiras novas e inovadoras. Esse tipo de criatividade vem do córtex pré-frontal, que permite você fazer duas coisas: prestar atenção concentrada e fazer conexões entre informações que você armazena em outras partes do seu cérebro.
A criatividade deliberada e cognitiva requer um alto grau de conhecimento e tempo. Para exercê-la, uma pessoa necessita informações de pré-requisito suficientes, ou seja, é necessário fornecer recursos de onde a pessoa pode obter as informações que precisa para ser criativa. Ela também precisa de tempo para resolver o problema.
Em vez de focar a atenção em uma área particular de conhecimento ou especialização, as pessoas que se envolvem nesse tipo de criatividade têm momentos “a-ha” relacionados com sentimentos e emoções.
As emoções e sentimentos são processados pela amígdala, que está conectada ao córtex cingulado, outra parte do cérebro que influi nas emoções. Essa parte do cérebro trabalha com sentimentos mais complexos, relacionados ao modo como você interage com os outros e ao seu lugar no mundo. O córtex cingulado está conectado ao Córtex Pré-Frontal, e por isso fazemos conexão deliberada dessas ideias e pensamentos emotivos.
A criatividade deliberada e emocional requer um tempo de quietude. Ela acontece quando ideias surgem após emoções intensas. Você pode fornecer perguntas ou situações para as pessoas refletirem, mas não espere que elas sejam capazes de dar respostas rapidamente e apenas interagindo com outras pessoas.
Sabe quando você fica horas atrás de uma boa ideia e ela não vem, aí você abre mão e vai fazer qualquer outra coisa, tomar um café, dar uma caminhada ou olhar um vídeo no YouTube para “arejar a mente”? Essa técnica, também chamada de ócio criativo, tem embasamento científico.
Ela se encaixa no perfil da criatividade espontânea e cognitiva. Ela envolve os gânglios basais do cérebro, local onde há um armazenamento de dopamina e a parte que opera fora da nossa consciência. Durante esse processo criativo, o cérebro consciente para de trabalhar em um determinado problema, dando espaço para a parte inconsciente tomar as rédeas da situação. Se um problema requer pensar fora da caixa, é necessário ser retirado temporariamente da nossa consciência. Ao realizar uma atividade diferente e não relacionada ao problema, o córtex pré frontal é capaz de conectar informações de novas formas através do seu inconsciente.
Isaac Newton foi extremamente criativo quando uma maçã caiu na cabeça dele, e ele conseguiu relacionar a fruta com a ciência e formular sua teoria da gravidade.
Esse tipo de criatividade vem da amígdala, onde as emoções básicas são processadas. Quando o cérebro consciente e o córtex pré frontal descansam, ideias e criações espontâneas podem surgir. Esse é o tipo de criatividade que grandes artistas e músicos possuem. Frequentemente, esses momentos criativos espontâneos e emotivos são poderosos, como uma epifania, ou experiência religiosa. Não há a necessidade de conhecimento específico (não é cognitivo) para este tipo de criatividade, mas normalmente há a necessidade de uma habilidade (escrita, artística, musical) para criar algo a partir da ideia espontânea a emotiva gerada.
Após entrevistar fundadores e CEOs de grandes companhias como Google, Amazon, Apple e Skype, os pesquisadores Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton M. Christensen, autores do livro The Innovator’s DNA (O DNA do Inovador), identificaram 5 elementos relacionados ao desenvolvimento da criatividade:
As associações acontecem quando o cérebro tenta processar e conectar informações em sequência, dando-lhes lógica e coerência. As pessoas mais inovadoras, segundo essa perspectiva, são aquelas que enxergam associações que não são vistas pela maioria das pessoas.
Pessoas com maior potencial de inovação propõem novas ideias e questionam quais efeitos elas podem provocar, buscando a todo momento entender como as coisas são e por que são daquela forma.
O inovador está sempre observando as coisas e tendo insights. Tem um perfil observador e detalhista, e todo mundo é alvo desse processo, como produtos, consumidores, tecnologias, estruturas e serviços. A partir dessas observações e dos questionamentos que são feitos, há espaço para o colocar em prática os questionamentos e associações, dando surgimento às inovações. Por exemplo: Steve Jobs, fundador da Apple, desenvolveu o sistema operacional para Macintosh, após visitar e observar o centro de inovação da Xerox.
A inovação oriunda do networking normalmente expande seu potencial quando as redes de contato possuem diferentes perspectivas e bagagens culturais. É importante trocar ideias com pessoas que possuem pontos de vista diferentes dos nossos, assim mantemos a cabeça aberta para novas ideias e um equilíbrio ao aplicá-las. Mais do que fazer contato social, essa prática estimula a obtenção de ideias frescas, pensamentos ousados e conceitos que fogem de padrões estabelecidos.
A criatividade envolve avaliar a viabilidade de novas ideias. Ou seja, colocá-las em prática. As pessoas mais inovadoras experimentam as suas ideias constantemente, sempre pensando em novas hipóteses. Experimentar também inclui visitar novos lugares, pesquisar por coisas novas e aprender algo diferente todos os dias. Mergulhar nessas experiências estimula a criatividade de forma que aumentamos nosso conhecimento para fazer novas associações.
A criatividade, portanto, não é uma habilidade restrita somente às pessoas que trabalham com música, arte e criação. Ela pode e deve ser implementada em todas as áreas de atuação e nas nossas atividades recreativas, porque assim aumentamos nossos conhecimentos e geramos inovação.
Depois de ler este post, não tem desculpa para você não começar a exercitar a sua criatividade, seja qual for a sua área de atuação ou de interesse. Essa habilidade só tem coisas positivas para somar na sua vida!
Até mais, Cyclopers!
